Já se passou quase 20 anos desde que me sentei no auditório do Clube das Mulheres, em Los Angeles, Califórnia e vi um homem num terno de risca de giz passar pelo palco e tomar seu assento atrás do pódio, onde muitos gravadores estavam colocados pelo palco. Um homem passou, apertou os botões das muitas máquinas, sentou-se e o orador começou.
Eu abençoo meu gravador muitas vezes, pois, embora eu tenha assistido as longas palestras por sete anos, quando ouvai as palavras “agora, vamos ficar em silêncio”, eu não conseguia me lembrar de uma palavra que havia sido dita.
Neville sempre teve o poder de me levar com ele (talvez porque eu sempre estava ansiosa e disposta a ir). Eu parecia não ter controle, simplesmente era transformada por suas palavras e permitia que ele me levasse a experienciar as imagens e sons que eu nunca soube antes que existiam. Contudo, eles eram tão familiares que meu coração cantava o refrão de aleluias.
O tempo sempre passava muito rápido e eu dirigia para casa tentando me lembrar do que eu havia ouvido e me perguntando por que eu me sentia tão pesada. Era porque eu havia estado tão livre? Era sempre desse jeito. Neville tinha aquele efeito em mim. Eu acreditava nele com todo o meu coração e alma. E ainda acredito.
Neville Goddard nos deixou em 01 de Outubro de 1972. Mas, para onde ele foi? Eu ainda posso ver seu sorriso (você sabe, o tipo de sorriso que o gato tem quando saboreia o canário) e ouvi-lo dizer “para onde eu posso ir senão para dentro de você!”. É onde eu o encontro. Ele está dentro de mim, assim como está dentro de você, não como um homem de carne e osso, nascido para a família Goddard e chamado Neville, mas em nossa própria consciência.
Mas, talvez, esse não seja o Neville sobre quem você queira saber. Talvez você precise saber sobre o garoto que nasceu em 19 de Fevereiro de 1905, o quarto filho de uma família de nove garotos e uma garota.
Eu vou lhe contar o que eu sei. Você tem que se lembrar, eu estou partilhando com você minhas lembranças sobre um homem que foi meu professor. Um homem a quem eu respeitava grandemente e aprendi a amar, com um amor mais profundo do que eu era capaz de possuir. Seu nome era Neville Goddard. |
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Numa manhã de Março, no ano de 1905, um homem subiu as escadas de uma casa de estrutura de madeira na ilha de Barbados. Ele estava a caminho de ver sua irmã e o filho recém-nascido dela, que não havia recebido um nome ainda. De repente, ele parou. Uma voz, falando em claro e bom som disse “seu nome é Neville”. Ponderando essas palavras, o homem continuou subindo os degraus e entrou no quarto de sua irmã. E quando disse a ela o que havia ouvido, ela disse “sim, eu sei. Vamos chamá-lo de Neville”.
Vivendo numa família de nove meninos, desde cedo Neville aprendeu a compartilhar. Na casa, o ditado era “o primeiro a ser vestido é o melhor vestido”, pois se os meninos começavam a discutir sobre quem tinha usado a gravata de quem, o pai finalizava a discussão tirando a gravata e dizendo “a gravata é minha. Eu paguei por ela. Estou disposto a dividir. Aprendam a fazer o mesmo”. E eles faziam.
A família Goddard era pobre em termos materiais, mas rica em amor. A mãe era uma disciplinadora. O pai era um homem de negócios. Neville costumava nos contar histórias de sua juventude; sobre os caranguejos na área com suas garras traseiras e sobre a senhora que vivia sozinha nas dunas de areia, que conseguia ler o futuro. Foi ela que contou a um dos irmãos de Neville que ele seria um grande empresário, que outro seria um médico, mas que deixassem o quarto irmão quieto, já que ele pertencia a Deus.
O quarto irmão sempre gostou de uma boa gargalhada. Se ele tivesse um níquel, ele o gastava. Ele costumava falar que pagaria a entrada de cinema para um amigo com a promessa de que o amigo riria alto na parte mais triste. O amigo sempre mantinha sua promessa e, portanto, nunca chegou a ver o final de um filme. Ou, ele pagaria a um homem, cujo cavalo estava no cio, para aguardar numa esquina, que Neville e seus irmãos chegariam a bordo de sua grande carroça puxada por outros no cio. Eu ainda consigo ver Neville rindo enquanto escrevo isso…e me lembro.
O que estou tentando lhe dizer é que Neville era um ser humano, assim como você. Assim como eu. Contudo, independente de todas as suas fraquezas humanas, Neville era consciente de ser Deus, o Pai. Mas, estou me adiantando em minha história.
Quando Neville ainda era bem jovem (na quinta ou sexta série, eu acho), ele devia levar sua Bíblia para a escola e recitar um versículo dela. Já que a família só tinha uma Bíblia e nenhum de seus irmãos a havia levado para a escola, Neville chegou sem uma Bíblia. Quando ele recitou o versículo “Toma tua cama e anda”, o professor o corrigiu dizendo o versículo lido, “Toma o teu leito e anda”.
E quando Neville não conseguiu trazer sua Bíblia, o professor o fez tirar a camisa e abaixar as calças. Em seguida, bateu nele sem piedade. Neville foi retirado daquela escola para continuar seus estudos em outro lugar, completando seus anos do ensino médio com dezessete anos de idade.
Contudo, havia uma fome no jovem, uma fome que não podia ser satisfeita na pequena ilha de Barbados. Assim, com dezessete anos Neville saiu de casa para o continente, chegando a New York em 1921. E ali, como um jovem sem estudos, ele começou a buscar sua fortuna.
Encontrou um emprego como operador de elevador na J.C.Penney Company, trabalhando por US$15,00 por semana até que lhe informaram que seus serviços não eram mais necessários. Com uma recomendação em mãos, Neville conseguiu um emprego na doca de expedição da Macy por US$13,00 por semana.
Mas, essa posição foi de curta duração, já que logo Neville ficou tão irritado que disse a si mesmo “de agora em diante, eu não vou trabalhar para os outros. Só vou trabalhar para mim mesmo”. E foi o que ele fez.
Acreditando que, se os outros podiam dançar num palco, ele também podia, Neville se juntou a uma dançarina e começou sua carreira profissional. Foi nessa época que ele se casou. Essa união resultou num filho.
Em 1925, Neville e sua parceira de dança partiram para a Inglaterra e viajaram amplamente por esse país. Enquanto estava lá, ele foi apresentado ao mundo da pesquisa psíquica, o que o interessou grandemente. Pouco depois de seu retorno à América do Norte, em 1926, seu interesse no misticismo foi crescendo enquanto seu interesse pelo teatro diminuía. E quando a depressão atingiu seu ápice em 1929 e os teatros fecharam, a mesma coisa ocorreu com a vida profissional de Neville como dançarino.
Durante essa época, Neville se interessou pela Sociedade Rosacruz e conheceu um homem que influenciaria sua vida. O homem achava que queria se tornar um sacerdote católico. Enquanto estava estudando para o sacerdócio, seu pai, um rico empresário, morreu e deixou uma herança de milhares de dólares para o filho. Rapidamente, mudando de ideia sobre o sacerdócio, o jovem começou a gastar o dinheiro mais rápido do que podia.
Sem respeito por um homem que gastava tão excessivamente quando o país passava por tal necessidade, Neville encontrava desculpas quando era convidado a assistir às aulas às quais o jovem comparecia. Mas, um dia, tendo esgotado suas desculpas, Neville assistiu à aula de um rabino etíope excêntrico chamado Abdullah. Quando a aula terminou, Abdullah se aproximou e, tomando a mão de Neville, disse “onde você esteve? Você está há três meses atrasado!”. Surpreso, Neville perguntou “Como você sabia que eu viria?”, ao que Abdullah respondeu “os irmãos me disseram”.
Com Abdullah, Neville estudou a Cabala, uma forma judaica de misticismo, e obteve ideias luminosas para os livros da Bíblia. Ele desenvolveu uma nova abordagem para o problema do homem e seu relacionamento com o mundo pulsante de espíritos à sua volta.
Foi Abdullah que ensinou Neville a como usar a lei da consciência e a como ver a Bíblia psicologicamente. E, conforme Neville começou a ver o mundo como um mundo de imagem, projetado a partir de dentro, sua fé em si mesmo cresceu.
Em Fevereiro de 1930, Neville começou a dar palestras em New York. A primeira reunião, numa pequena sala de um prédio público onde apenas um punhado de pessoas compareceu, conforme crescia sua habilidade de oratória e ele ganhava confiança em sua mensagem, a mesma coisa ocorria com seu público.
O primeiro casamento de Neville foi de curta duração e ele permaneceu solteiro por vários anos até que um dia uma jovem designer sentou-se em sua audiência. Enquanto ela o escutava palestrar, ela disse a si mesma “esse é o homem com quem vou me casar”.
E quando eles se deram as mãos no final da palestra, Neville segurou a mão dela e disse a si mesmo “essa é a mulher com quem vou me casar”, e eles se casaram.
Foi um bom casamento. Eles se amavam profundamente, isso era óbvio, e dessa união nasceu uma filha.
Após o término da guerra, Neville começou a viajar, dando palestras em várias cidades grandes, do oeste a San Francisco. E, então, um dia ele soube que era o momento de deixar New York. Ele esperava se mudar para San Francisco, já que amava essa cidade cosmopolita, mas não seria assim.
Ele sabia até então que seu trabalho principal estava para ser feito em Los Angeles, então, pegando esposa e filha, a família Goddard se mudou para Los Angeles em 1955. Retornaram a New York no outono de 1956, voltando a Los Angeles em 1957.
Não tenho as datas, mas sei que durante os primeiros anos de 1950, Neville tinha seu próprio programa de televisão. Ele fez duas gravações fonográficas durante esses anos, que agora estão disponíveis em CD. Ele também debateu com equipes de ministros, padres e rabis em programas especiais de televisão.
Neville ensinava A Lei da Consciência em Los Angeles, no Theater Fox Wilshire, nas manhãs de domingo, para multidões tão grandes que as pessoas aglomeradas em pé do lado de fora para ouvir suas palavras. Ele também passava várias semanas a cada ano em San Francisco.
Foi em San Francisco, em 20 de Julho de 1959 que Neville despertou vendo a si mesmo selado numa tumba. Removendo uma pedra colocada ali, ele saiu de seu crânio assim como a criança vem do útero de sua mãe.
Desse momento em diante, as palestras de Neville mudaram. Tendo despertado do sonho da vida, a visão de mundo para Neville mudou. Ele sabia, conforme as visões vinham para ele daquele momento em diante, que a vestimenta que ele usava e respondia com seu nome, era simplesmente uma cobertura, escondendo seu ser imortal, verdadeiro, que era Deus, o Pai.
E ele tentou dizer a todos que o escutavam que eles não eram a ínfima máscara que usavam, mas um ser muito maior do que eles podiam sequer conceber que eram.
E desse dia em diante, até sua partida em 01 de Outubro de 1972, Neville, assim como o apóstolo Paulo, expôs-se da manhã à noite, testemunhando o Reino de Deus e tentando convencer a todos sobre Jesus, tanto pela lei de Moises quanto pelos profetas.
E alguns acreditavam, enquanto desacreditavam.
Margaret Ruth Broome
Do livro ‘O Milagre da Imaginação’
Fonte: espacocriando.blogspot.com/2014/09/quem-foi-neville-goddard.html